Belmonte

Cantor e Compositor do Hino Sertanejo

" Saudade de Minha Terra "

Belmonte foi um precursor da música sertaneja moderna.

Ainda dentro do que se chama de sertanejo raiz, Belmonte e o seu parceiro, Amaraí, fizeram uma série de experimentos e adições sonoras às gravações. Deram um passo à frente em toda a estética sertaneja, colocando mais instrumentos e sons nas composições. Assim, fugiam do clássico esquema de duas vozes e dois violões ou duas vozes e um violão e uma viola.

Essa inovação foi precursora de uma ainda maior que aconteceria anos mais tarde, quando Chitãozinho & Xororó incorporariam uma banda completa às gravações, com bateria, baixo elétrico e até guitarras.

Por isso, Belmonte & Amaraí são influência direta para todas as duplas, cantores e cantoras que vieram depois deles. A música “Saudade de Minha Terra”, a mais famosa composição de Belmonte, virou um dos hinos imortais da música sertaneja e um clássico da música brasileira, conhecida de norte a sul do país. A dupla Belmonte & Amaraí foram sucesso no Brasil inteiro a partir de 1966. Mas, infelizmente, a carreira de Belmonte foi interrompida por um final trágico apenas oito anos após mostrar a potência de sua arte para toda uma geração.

O INÍCIO

Paschoal Zanetti Todorelli nasceu em 2 de novembro de 1937 em Barra Bonita, interior de São Paulo. Uma cidade pequena e praticamente inteira rural. Desde muito cedo Pascoal Todarelli queria ser cantor, mas não teria uma carreira sólida apenas se apresentando para amigos e familiares ou para o pequeno público do interior.

Ele sabia que teria que sair de casa para perseguir o seu sonho. É por isso que desde os 16 anos ele se aventurava na capital São Paulo em busca de oportunidades para cantar, gravar, aprender mais sobre o mundo da música e conhecer pessoas do meio.

Antes de escrever seu nome na história da música com o parceiro Amaraí, Belmonte já tinha cantado com outros nomes. Assim, aos 18 anos gravou o disco Aquela Mulher como a dupla Belmonte & Belmiro e, depois, formou a dupla Belmonte & Tibagi (Tibagi ficaria mais conhecido anos depois, com a dupla Miltinho & Tibagi).

Mas foi em um bar do Largo do Paissandú, em 1964 na capital paulista, que tudo mudou para sempre.

Belmonte conheceu Amaraí e eles começaram a se apresentar juntos. O lugar era conhecido como Café dos Artistas, um visado ponto de encontro de violeiros e cantores que estavam em início de carreira. Todos ali buscavam oportunidades para se apresentar, mostrar suas composições e formar novas parcerias.

BELMONTE E AMARAÍ

Belmonte e Amaraí afinaram a relação e não perderam tempo.

Começaram a se apresentar em casas noturnas e praças de cidades do interior. Naquela época, além de shows de palhaços, mágica e números com animais, os circos que se instalavam nas cidades tinham a tradição de abrir espaço para duplas sertanejas também.

Em busca de maior reconhecimento, Belmonte e Amaraí também transformavam o picadeiro em palco para mostrar como suas vozes soavam bem juntas.

Foram dois anos de muita luta até que os dois jovens cantores conseguissem gravar o primeiro disco juntos. Em 1966, lançaram Saudade de Minha Terra pela RCA. A gravação só foi possível por causa da aposta de Nenete, produtor do álbum e cantor na dupla Nenete & Dorinho.

A gravação só foi possível por causa da aposta de Nenete, produtor do álbum e cantor na dupla Nenete & Dorinho.

SUCESSO E RECONHECIMENTO

Saudade de Minha Terra bateu recorde de vendas para a música raiz.

Superou a marca de 1 milhão de cópias vendidas. O carro-chefe do álbum foi a faixa-título. “Saudade de Minha Terra”, composta com Belmonte e Goiá, é inesquecível desde sua abertura, passando por sua letra poética e nostálgica em que os músicos falavam como a vida na cidade grande não se comparava à saudade que tinham do interior, onde havia maior contato com o campo, a natureza e com suas raízes de criação.

Para que fique claro, é sobre a saudade de Barra Bonita que Belmonte canta.

O sucesso da canção catapultou o nome de Belmonte & Amaraí para o estrelato da música. Conforme “Saudade da Minha Terra” era executada em rádios Brasil afora, em shows e ganhava versões por outras duplas da época, mais conhecidos eles se tornavam.

Algumas das inovações presentes no álbum e na música carro-chefe fizeram com que Belmonte e Amaraí se tornassem referências incontornáveis para sertanejos, cantores e produtores.

Viraram modelos a serem seguidos por quem também quisesse perseguir um tipo de música raiz mais moderna, com maior instrumentação e arranjos mais arrojados, rompendo com o que a música caipira de duplas como Tonico & Tinoco e referências ainda mais antigas como Capitão Furtado e João Pacífico.

“Saudade de Minha Terra” é um marco da música raiz e sertaneja.

A canção virou um hino que já foi regravado por cantores como Chitãozinho & Xororó, Sérgio Reis, Milionário & José Rico, Liu & Léu, Tião Carreiro & Carreirinho, Jackson Antunes, Chico Lobo, Michel Teló e vários outros.

Duplas como Matogrosso & Matias e Milionário & José Rico chegaram a afirmar que, juntas, as vozes de Belmonte e Amaraí eram imbatíveis.

Elas se combinavam e harmonizavam como nenhuma outra durante o curto tempo em que se apresentaram juntos. Eles tinham o costume de cantar em uníssono, fazendo com que parecesse apenas uma voz, mas mantinham também a tradição de uma voz principal mais alta e uma segunda voz cantando uma terça abaixo.

SEPARAÇÕES E REENCONTRO

Apesar do entrosamento vocal, Pascoal Todorelli (o Belmonte) e Domingos da Cunha (Amaraí) tinham jeitos muito diferentes de encarar a vida e o trabalho.

Mesmo com um disco de sucesso e uma música convertida em hino, os dois cantores se separaram e trilharam rumos diferentes.

Durante essa separação, Belmonte gravou com Miltinho Rodrigues. Em seguida, gravou seis clássicos da música raiz acompanhado apenas por orquestra e coral. Sem uma segunda voz, esse disco exibe toda a beleza e o potencial de sua voz.

Mas o cantor voltaria a fazer dupla com Amaraí para mais cinco discos. Lágrimas da Alma também saiu pela RCA, mas sem alcançar os números do primeiro lançamento. Os quatro seguintes foram lançados pela Chanteclaire: Te Amarei Toda Vida (1968), Boa Noite, Amor (1968), Sucessos (1969), Gente de Minha Terra (1972) e Porque Fui Te Conhecer (1972).

Além da música raiz e de um estilo mais moderno de sertanejo, Belmonte interpretou canções compostas por diversos outros músicos e duplas da época. Rancheras mexicanas e boleros também foram importados para dentro de seu repertório, assim como músicas românticas de nomes populares no país, como é o caso de “Meu Pequeno Cachoeiro”, de Roberto Carlos.

O FIM DE BELMONTE

A garoto que ia a São Paulo cantar e em 1966 marcou seu nome no mundo da música tinha tudo para se tornar um dos nomes mais celebrados da música caipira e sertaneja do Brasil.

Aos 34 anos de idade, no dia 9 de setembro de 1972, fez um show em São Paulo e resolveu não ficar na capital. Dirigiu seu carro durante a noite toda de volta para o interior. Ia em direção à Barra Bonita, sua cidade natal, onde morava sua mãe e sua família, e o lugar que inspirou seu maior sucesso, “Saudade de Minha Terra”.

Contudo, Belmonte dormiu ao volante e o carro acabou colidindo com uma ponte na entrada de Santa Cruz das Palmeiras, há menos de 200 km de Barra Bonita.

Ainda estava vivo quando foi encontrado, mas muito ferido. Sangrava e sentia dores muito fortes. Foi socorrido e levado a um hospital nas imediações, mas Belmonte não sobreviveu à gravidade dos ferimentos.

Foi o fim de uma estrela que brilhou muito forte no céu, mas infelizmente por menos tempo do que se esperava.

Toda a obra de Belmonte está espalhada por noves álbuns de música e mais de 100 canções gravadas com Amaraí, Belmiro, Miltinho e solo.

HOMENAGEM

Ao longo das décadas, Paschoal Zanetti Todorelli recebeu diversas homenagens e lembranças por sua contribuição artística ao sertanejo e à música brasileira.

Todas as gerações de cantores e duplas que vieram após Belmonte conheceram sua música e vários deles fizeram suas próprias versões de “Saudade de Minha Terra” tanto ao vivo quanto em estúdio, mantendo sua memória viva e seu legado reconhecido.

O cantor é o filho mais conhecido de Barra Bonita, uma estância turística no interior paulista famosa pela navegação fluvial e por sua bela orla. Mas fãs e admiradores da história da música raiz sabem que Belmonte nasceu na cidade e fazem questão de visitar seu túmulo no cemitério do município.

Ainda hoje, o túmulo e Belmonte é o mais visitado de Barra Bonita.

Apesar das várias homenagens que já recebeu ao longo dos anos, em 2022, ao completar 50 anos de sua morte, a prefeitura de Barra Bonita organizou um tributo de três dias ao cantor, com a presença de autoridades, admiradores locais e várias duplas sertanejas que realizaram grandes shows na cidade para honrar Belmonte.

Na noite de 25 de novembro, uma estátua de bronze em tamanho real foi inaugurada na praça do Hotel Municipal, em plena orla turística. Ao lado da estátua, foi instalada uma placa comemorativa com toda a letra do hino “Saudade de Minha Terra”.

Essa é nossa homenagem à Belmonte

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